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Reflexão: Uma cidade menos amarela

Depois de muitos anos morando na mesma cidade, a gente se acostuma com as paisagens, com as pessoas que conhecemos de “vista”, com os barulhos do trânsito, com o cheiro e com  toda a movimentação diária. Eu particularmente me acostumei com as cores dessa cidade, que nessa semana amanheceu menos amarela.

Amarela era a cor da maioria dos ônibus do transporte coletivo de Blumenau, cidade onde nasci e cresci. Já faz algum tempo que a população sofre com esse tipo de transporte, onde a falta de qualidade no serviço prestado, o desleixo com os funcionários e o descaso com as necessidades dos usuários foram a causa do rompimento de contrato entre a Prefeitura e as empresas que forneciam esse transporte, fazendo com que as mesmas tirassem seus ônibus de campo e não voltassem nunca mais.

Essa notícia me pegou um pouco de surpresa e me fez lembrar da história que tenho com esses ônibus, esses  motoristas e esses cobradores que faziam da minha jornada para o trabalho/escola/casa muito mais divertida, ou não.

Lembro que quando comecei a usar o transporte coletivo, tinha mais ou menos nove anos de idade e parei de usá-lo aos 20 quando comprei minha moto. Foram mais de 11 anos como usuária, 584 mil vezes que precisei correr atras de um ônibus por estar atrasada e 820 cochiladas entre um terminal e outro.

Em todo esse tempo, como esquecer dos motoristas que me conduziram em segurança e como esquecer as conversas reflexivas com os cobradores? 

Como não lembrar da bagunça que eu fazia com os meus amigos dentro do ônibus ao voltar da escola, das pessoas que esqueciam de passar desodorante e dos seres de açúcar que fechavam todas as janelas em dias de chuva, fazendo inimigos as 7:00 da manhã?

Quem nunca leu mensagens do tipo: “Eu te amo Renato” ou “Bruna é vaca” escrita nos bancos dos ônibus, não sabe o que é começar o dia feliz e animado.

Por mais que o serviço não fosse como a gente gostaria e que nem todos os motoristas fossem como o Sr. Dário que dava balinhas aos passageiros, eu gostaria de agraceder as empresas: Nossa Senhora da Glória, Rodovel e Verde Vale por terem feito parte da minha história, da minha vida e por ter me levado a todos os lugares que eu precisava ir. Em especial gostaria de agradecer a empresa Rodovel por ter provido o sustento da minha família durante tantos anos, sendo meu pai, motorista de ônibus.

Gostaria de agradecer a todos os motoristas (gentis ou não) aos cobradores (que devolviam o troco certo ou não), aos fiscais de terminais (que fiscalizavam ou não). Obrigada por fazerem mais do que seus chefes pediam, por que sorriso no rosto e cheirinho de café as 05:00h da manhã não era obrigação de vocês, mas mudavam meu dia todos os dias. Que Deus abençoe a todos e que vocês possam ter de onde tirar o sustento para suas famílias.

Sobre o serviço de transporte, espero que melhore e que todos os 120 mil usuários tenham como se locomover com segurança e qualidade...

Mas daqueles transformers amarelos, sentirei falta.